Media mention
Karen Harris, diretora da Bain & Company: "Alguns investidores estão cortando China e Rússia de seus portfólios"
Nada como um olhar à distância. Enquanto o investidor local reforça os níveis de desconfiança com relação à economia, o estrangeiro mostra interesse firme pelo país, especialmente com relação às oportunidades em infraestrutura, diz a nova-iorquina Karen Harris, diretora de macrotendências da consultoria de negócios global Bain & Company. "E alguns deles estão cortando China e especialmente a Rússia de seus portfólios", diz.
Pela segunda vez no Brasil para uma apresentação que reuniu cerca de 200 clientes e grandes executivos em São Paulo, Karen se diz surpresa com o nível de pessimismo local, em nada parecido com o humor externo em relação ao país. "Sinto que, talvez, o sentimento de curto prazo esteja correto, mas a visão de longo prazo está pessimista demais, dadas as oportunidades do país."
Em um mundo marcado pela escassez de demanda, diz a executiva, investidores institucionais como fundações e fundos de private equity estão em busca de desafios como os apresentados por países como Brasil e Índia, únicos entre as maiores economias a contar com uma demanda superior à oferta. "Qualquer um que já tentou chegar a um compromisso sob chuva em São Paulo pode te falar a respeito dos desafios em infraestrutura", diz ela.
Essa necessidade de investimento em infraestrutura, afirma, combina perfeitamente com um mundo no qual a escassez de recursos deve se manter como o menor dos desafios por um tempo considerável. Karen ressalta que, em 1990, a relação entre ativos financeiros e PIB global era de 6,5 vezes. Em 2010 chegava a dez vezes. "E vai se manter nesse nível ao menos até o fim da década", acredita.
Entre os ativos, Karen diz que seus clientes estão enxergando oportunidades na construção de portos, por exemplo, como forma de melhorar o transporte de mercadorias que saem do país. A regulação local, no entanto, ainda é uma preocupação. "Há oportunidades para melhorar as regras. A questão é como o governo quer que isso ocorra: da forma mais barata no curto prazo, o maior retorno para o governo ou a melhor qualidade? Há várias respostas e a forma como elas são dadas interfere em quem vai ser envolvido na concessão e como".
Karen não nega que há desafios no ambiente político, mas avalia que eles precisam ser vistos de uma perspectiva relativa. "Investidores que olham para o Brasil não acham que estão investindo na Califórnia. É um mercado emergente e dele se espera maior risco e também mais altos retornos e não há muitos países no mundo hoje em que investidores podem encontrar bons retornos em meio a esse ambiente de alta liquidez e baixas taxas de juros", afirma ela.
Karen diz que não tem elementos suficientes para avaliar a possibilidade de um impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas diz que a democracia e as instituições políticas locais dão mostras de força. "Fiquei impressionada, pois o país teve milhares de pessoas protestando em São Paulo e não tinha nem sujeira nas ruas", diz. "Em Londres, não se pode ter cem fãs de futebol juntos sem vandalismo."
Entre o risco político e os desafios econômicos, ela diz que a preocupação maior do investidor externo recai sem dúvida sobre as incertezas macroeconômicas - o fim do ciclo de commodities, desafios em infraestrutura e as leis trabalhistas locais preocupam mais do que corrupção no governo. "Na avaliação dos meus clientes, escândalos vêm e vão em todo governo. A transparência e a estabilidade com que a coisa toda é tratada são mais importantes do que erros individuais".
Segundo Karen, é preciso pensar o Brasil em um contexto mais amplo. Entre os Brics, por exemplo, sigla que para ela soa um tanto reducionista, a campanha anticorrupção chinesa pode ser oportuna, mas não parece construir um senso forte de transparência, enquanto a Rússia parece longe de zelar pelos interesses de investidores estrangeiros. "Já em relação à Petrobras, há um sentimento de quem está acompanhando de que as autoridades estão atrás dos culpados", diz.
Para Karen, o interesse externo por infraestrutura casa com o movimento demográfico de envelhecimento global, em que aumenta a procura por investimentos de longo prazo que cubram obrigações de aposentadoria. Ela identifica ainda um movimento de transferência de capital das mãos do sistema financeiro tradicional para investidores privados, como grandes fundos de pensão e fundos de private equity, o que muda também a dinâmica com relação à classificação de risco de um país.
Segundo ela, um eventual rebaixamento da nota de crédito brasileira não seria desejável, mas, diante de tanto capital disponível, teria impacto reduzido em comparação a outros.