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O setor de telecomunicações no Brasil continua em transformação. As empresas caminham para uma consolidação que deve resultar em menos concorrentes, porém mais competitivos. Das cinco grandes empresas atuais, analistas esperam que restem apenas três, depois da venda da GVT e, possivelmente, da TIM.
A disputa por ativos no país está no centro da estratégia de operadoras europeias, seja em busca de mais clientes, de reforço de caixa ou de algum alívio para a acirrada concorrência e os baixos preços em seus mercados locais.
"Os países emergentes são interessantes porque têm um potencial de crescimento ainda grande", afirma Sérgio Lee, diretor da Maksen no Brasil, multinacional portuguesa de consultoria de negócio e sistemas de informação. "No Brasil, as teles europeias têm uma imagem construída e conhecimento da operação."
Cinco concorrentes em telefonia é um fator "particularmente desafiador", diz Alfredo Pinto, sócio da consultoria de negócios Bain & Company. O setor requer muitos investimentos, em redes e tecnologia, e está sujeito a uma tributação elevada. "É um contexto fértil para fusões e aquisições, com o objetivo de liberar sinergias e amenizar a piora de margens." A compra da GVT foi o primeiro passo para essa consolidação na fase atual. A empresa da francesa Vivendi foi para as mãos da Telefônica após uma oferta de € 7,45 bilhões. A Telecom Itália também tinha uma proposta pela GVT, mas envolvia a fusão da tele com a TIM, em um negócio de € 7 bilhões, considerado menos atrativo. O próximo alvo é a TIM. A derrota da Telecom Itália em sua tentativa de adquirir a GVT abriu espaço para a venda da operadora móvel, diz a Fitch Ratings.
"Há o interesse no ganho de escala no Brasil, mas também a necessidade de dinheiro para financiar a elevada dívida das controladoras", ressalta Lee, da Maksen. Abrir mão da unidade no Brasil aliviaria a dívida da Telecom Itália, além de reduzir a chance de rebaixamento de sua nota de crédito por agências de risco.
Apesar da diminuição da concorrência no mercado brasileiro, pela perda da TIM, a venda ajudaria a conter o impacto da economia em desaceleração e de cortes acima do esperado nas tarifas de interconexâo das empresas do setor, afirma a Fitch. A TIM deve receber em breve uma oferta da Oi, assessorada pelo BTG Pactuai. Os ativos seriam divididos entre Oi, Vivo e Claro.
"Pode ser uma necessidade de caixa, mas a consolidação é também uma questão estratégica de permanência no mercado brasileiro e de aumento no volume de clientes", diz Manuel Fernandes, sócio-líder da empresa de auditoria e consultoria KPMG para os setores de tecnologia, mídia e telecomunicações.
"O Brasil proporciona escala e, portanto, custos básicos competitivos para as teles estrangeiras", afirma Juarez Quadros, sócio da Órion Investimentos e ex-ministro das Comunicações. Entre as vantagens do mercado local, a regulamentação aprovada na década de 90 pode ser considerada bastante moderna, ele diz, enquanto a concentração de mercado é menor que em outros países da América Latina, como México e Colômbia.
O interesse do capital externo no setor de telefonia brasileiro é antigo. Neste momento, ele se reacomoda. A lucratividade das operações precisa ser ajustada à perspectiva de queda progressiva da tarifa de interconexâo, afirma Pinto, da Bain & Company. As fusões e aquisições no setor de telecomunicações e mídia brasileiro dobraram no primeiro semestre, na comparação com um ano antes, como forma de adequar a infraestrutura das redes de fornecedores ao movimento estratégico das grandes operadoras, mostra pesquisa conduzida pela KPMG em 43 segmentos da economia brasileira. Só em telecomunicações, a KPMG detectou 16 negócios, de janeiro a junho deste ano.
"Houve uma forte desaceleração de negócios em 2012, um cenário fraco em 2013 e, neste ano, o setor parece estar mais aquecido, apesar de ainda ser um pouco cedo para avaliar", diz Luis Motta, sócio da área de fusões e aquisições da KPMG. No acumulado anual, foram realizadas 34 transações em mídia e telecomunicações em 2011,27 em 2012 e 13 no ano passado.
"O setor de telecomunicações torna-se um grande motor para uma série de outros setores que orbitam ao seu redor", afirma Motta. Fornecedores e a cadeia de suprimentos reagem ao movimento das operadoras como forma de criar musculatura para atendê-las ou de adaptação às novas necessidades.