Gazeta Mercantil
A atual crise econômica trouxe importantes desafios para as empresas de petróleo graças à sensacional escalada e posterior queda nos preços do barril. O Brasil, no entanto, vive quase que uma antítese à crise graças ao comprometimento no desenvolvimento do pré-sal.
Em 2009 se espera um cenário internacional inquietante nas atividades de exploração e produção de petróleo devido à queda nos preços médios a algo em torno de US$ 40 a US$ 60 por barril: reestruturação do setor, redução do número de empregos e contração nos investimentos. Tudo isso somado ao declínio na capacidade de produção global de 5 milhões de barris por dia em relação aos níveis de 2008.
Há uma perspectiva de consolidação iminente que impactará todo o espectro de participantes: produtores, fornecedores e prestadores de serviços. Dos 300 principais participantes da indústria, mais de 10% serão pegos no redemoinho da consolidação, sendo fundidos, adquiridos ou simplesmente deixando de existir. Para os líderes do setor, será fundamental estar preparado para tirar vantagem da intensificação de alianças, consórcios, fusões e aquisições. É o momento de agir proativamente na identificação e materialização de acordos com potencial de criar acesso a reservas, tecnologias ou capacitações que podem ser extremamente valiosas ao término da crise.
Além disso, espera-se uma contração de 10% no total da força de trabalho setorial. Algumas empresas de petróleo e fornecedores já anunciaram cortes substanciais globalmente, porém gerando uma exposição a riscos de longo prazo ao comprometer o capital humano responsável por sustentar a excelência operacional e técnica num momento de escalada tecnológica intensa, em face dos crescentes desafios produtivos das reservas mais recentes (por exemplo, águas ultraprofundas).
Adicionalmente, a queda nos preços de petróleo no mercado internacional está tornando crítica a gestão de compras e da cadeia de suprimentos. A alta dos preços de petróleo no período entre 2004-2008 levou a um forte aumento dos preços de bens de capital e serviços demandados pelo setor.
Como consequência, as empresas se vêm hoje com margens pressionadas. Enquanto o preço do petróleo é similar ao de 2004, os contratos de investimento e operação estão inflacionados pela demanda extremamente aquecida dos últimos anos.
O grande desafio será utilizar a criatividade para desenvolver estratégias ou modelos operacionais que trabalhem a eficiência e a eficácia da cadeia de suprimentos, eliminando os efeitos inflacionários em todos os seus elos. Aqueles que conseguirem superar este desafio terão criado uma significativa vantagem econômica e estratégica.
Este cenário pode ser uma grande oportunidade para o Brasil. Com a demanda por serviços que será gerada aqui por conta do pré-sal, o momento setorial pode permitir a empresas brasileiras a oportunidade de avaliar aquisições ou alianças que as capacitem a ser competitivas internacionalmente no longo prazo, assim como fizeram algumas empresas norueguesas no passado.
O movimento pode ser tanto de assimilar capacitações e tecnologias para criar ou consolidar uma posição localmente, como também para buscar um posicionamento internacional diretamente.
Os cortes de pessoal ajudam a complementar esta estratégia, possibilitando a atração de pessoal capacitado para trabalhar no mercado doméstico, assim como avançar em outras geografias alavancando profissionais com conhecimento global.
Para o Brasil, então, o grande desafio do cenário será o trabalho sobre a cadeia de suprimentos, por meio de uma abordagem sistêmica que vise aumentar a capacitação dos fornecedores locais, incrementar o conteúdo tecnológico dos mesmos, diversificar suas áreas de atuação e torná-los competitivos em escala global.
O petróleo do pré-sal terá um impacto inigualável, e a crise internacional pode dar às empresas nacionais uma janela para beneficiar-se do mesmo de forma ainda mais contundente e diretamente. É hora então de escolher as apostas e ir à luta.
Colaborou: Marcos Alves
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) JOSÉ DE SÁ (Sócio da Bain & Company. Próximo artigo da equipe em 25 de junho)