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Este artigo foi publicado originalmente no site da Época Negócios
Brasil, outubro de 2024 - A transformação digital está no cerne de uma revolução que promete remodelar a economia global, fomentar a inclusão social e oferecer soluções inovadoras para questões que há muito desafiam a sociedade. No entanto, quando observamos de perto todas as perspectivas e consequências dessa mudança massiva, notamos que ela não ocorre de maneira automática ou uniforme. Serão necessárias ações estratégicas e coordenadas, tanto do setor público quanto do privado, para garantir que os benefícios da digitalização sejam compartilhados de forma ampla e igualitária.
Um dos primeiros passos para uma transformação digital eficaz é assegurar a conectividade universal. Embora tenhamos avançado significativamente nos últimos anos, com mais da metade da população mundial com acesso online, ainda existem 2,6 bilhões de pessoas que permanecem desconectadas. Isso não diz respeito apenas à infraestrutura física de rede, mas também inclui garantir custos acessíveis e proporcionar à população habilidades digitais necessárias para utilizar as tecnologias de maneira eficaz.
As disparidades regionais, de gênero e idade ainda são bem claras e devem ser abordadas com políticas direcionadas, como parcerias público-privadas e reformas regulatórias que incentivem a expansão da infraestrutura e a educação digital.
Em complemento, o aumento da conectividade e da dependência de tecnologias digitais trouxe à tona preocupações legítimas sobre cibersegurança e privacidade. Um ambiente digital seguro é imprescindível para que indivíduos e empresas possam interagir sem vulnerabilidades ou ameaças cibernéticas. O desafio está no equilíbrio entre a proteção de dados e a promoção da inovação.
Entre as principais ações necessárias para mitigar impactos negativos e construir um ecossistema digital resiliente estão a harmonização de padrões de cibersegurança e a cooperação internacional. Além disso, o conceito de Fluxo Livre de Dados com Confiança (DFFT) deve ser adaptado para que as informações possam fluir entre as fronteiras, impulsionando a inovação e o crescimento econômico sem comprometer a privacidade e a segurança.
Outra tecnologia emergente que já está transformando a maneira como trabalhamos, vivemos e interagimos é a Inteligência Artificial (IA). Seu potencial é imenso e, para que sua aplicação aconteça de forma positiva, é fundamental que o desenvolvimento da IA seja guiado por princípios éticos e sustentáveis, acompanhado por uma governança proativa e colaborativa.
Países e organizações globais têm o dever de estabelecer, de forma unificada, diretrizes que promovam a inovação responsável. Princípios de ética, sustentabilidade, segurança e inclusão devem ser incorporados em cada etapa do desenvolvimento e implementação da IA, garantindo que seus benefícios sejam amplamente distribuídos e que os riscos sejam minimizados.
Todos esses pontos de atenção dependem da colaboração entre o setor público e o privado. Enquanto os governos têm o poder de moldar políticas e regulamentações, as empresas contam com a agilidade e a expertise técnica para inovar e implementar soluções em escala. Essa sinergia é crucial para enfrentar os desafios globais e assegurar que a transformação digital seja inclusiva e sustentável.
Ao olharmos para o futuro, entendemos que a transformação digital é crucial para que a sociedade evolua em um ambiente cada vez mais interconectado e dinâmico. O caminho para essa transformação exige compromisso, inovação e, acima de tudo, uma visão coletiva de um futuro melhor e mais conectado.
*André Bolonhini é sócio da Bain & Company e atuou como “knowledge partner" da força-tarefa de Transformação Digital do B20 2024.