Press release
Brasil, outubro de 2023 - No último ano o mundo entrou em um cenário letárgico de fusões e aquisições, com valores e volumes de negócios bem abaixo dos máximos alcançados logo no pós-pandemia. Os sinais do mercado para fazermos uma leitura desse cenário são contraditórios. Durante esse período, as avaliações de negócios caíram drasticamente e os bancos centrais aumentaram ou fizeram a manutenção de altas taxas de juros, enquanto o segmento de títulos sugere uma reversão iminente. As demissões aceleraram, porém o volume de contratações continua resiliente. A inflação desacelerou, embora persista. A tão temida recessão ainda não chegou oficialmente, contudo, os gestores já colocam em prática iniciativas com foco renovado na disciplina de custos.
É um clima econômico estranho para qualquer padrão, por isso a Bain realizou extensas entrevistas com executivos para entender como isso interfere em suas decisões sobre fusões e aquisições. Repetidamente, cinco pontos são mencionados:
1- Os compradores ainda querem fechar negócios. Eles reconhecem que tempos de turbulência criam grandes oportunidades para melhorar a posição estratégica. No entanto, quase todos relatam dificuldades para fechar acordos.
2- Os vendedores acreditam em seus negócios. Ninguém quer ser aquele que vendeu com o mercado em baixa. As saídas de private equity secaram e os desinvestimentos corporativos diminuíram.
3- As condições variam muito conforme a indústria. Acordos de escala, particularmente em setores altamente regulamentados, como o de telecomunicações, estão em alta novamente. Mas há segmentos nos quais as equipes de negócios não conseguem nem sequer chegar a consenso sobre o desempenho básico dos últimos três anos.
4- Em todo o mundo, os esforços governamentais para conter as fusões e aquisições por meio de regulamentação e análises competitivas estão funcionando, o que gera pouco movimento nas salas de reuniões onde as ideias de negócios são discutidas.
5- Ninguém acha que a era das fusões e aquisições acabou - vivemos agora uma pequena pausa. Os times têm trabalhado na estratégia de fusões e aquisições, triagem do setor e diligência como formas de preparar as companhias para agirem rapidamente assim que o mercado se abrir novamente.
Compradores e vendedores ainda não se alinharam
O valor global de fusões e aquisições caiu 44% nos primeiros cinco meses de 2023 e a comparação com o ano anterior é discrepante, principalmente pelos excelentes números do início de 2022. No Brasil, a queda no valor de negócios foi semelhante, chegando a 43%. No entanto, os tipos de negócios que sofreram maior redução são diferentes. Enquanto por aqui os M&As estratégicos caíram 52% e os negócios alavancados caíram 31%, de forma global o alavancado perdeu 54% de seu valor, incluindo private equity, complementos de PE e capital de risco. Esses adquirentes enfrentam dificuldades para criação de valor em meio ao alto custo de alavancagem e acesso mais limitado ao financiamento.
Dentro do mercado estratégico, os add-ons lastreados em PE caíram duas vezes mais rápido que as fusões e aquisições corporativas, em parte porque os adquirentes corporativos seguem com acesso a capital de custo mais baixo, uma tendência apresentada tanto em dados globais quanto no recorte Brasil.
O valor dos negócios no primeiro trimestre de 2023 representou o menor índice de um Q1 em 20 anos. Os volumes também diminuíram, entretanto, estão um pouco mais resilientes (queda de 16%), revelando uma mudança de mercado para negócios menores. Em comparação, no Brasil os negócios apresentaram queda relevante também em número de deals, uma redução de 48%, bem maior que a tendência global que mostra uma queda de 16% nos deals.
Os múltiplos de negociação reagiram de forma desigual. Enquanto as avaliações em tecnologia têm caído de forma significativa, elas se mantiveram estáveis ou subiram na maior parte dos demais setores.
Os próximos passos para M&As em 2023
Em poucas palavras: faça sua lição de casa e se prepare para agir. É provável que a recuperação não aconteça em todos os lugares de uma só vez. Alguns setores já experimentam uma onda de negócios orientados à escala para aproveitar novas oportunidades e dirimir ameaças, principalmente em indústrias baseadas em commodities, produtos farmacêuticos e bancos. Em outras áreas, é possível que leve mais tempo para se observar essa retomada. O importante, em todos os casos, é que as empresas mais bem preparadas vão poder se beneficiar com o aquecimento do mercado.
Um grande número de companhias aguarda pela redução na taxa de juros. Indústrias com fluxos de caixa vinculados ao “valor terminal” foram particularmente atingidas pelo aumento da Selic no ano passado. Com a redução da volatilidade, um vento favorável de longo prazo pode apoiar o investimento orientado ao crescimento. Negócios menores, principalmente no âmbito corporativo, têm sido muito mais resilientes do que grandes fusões e aquisições. Acordos relacionados a novas propriedades intelectuais, capacidades e mercados estão acontecendo sem muito alarde - e provavelmente vão acelerar. A inteligência artificial (IA) generativa tem grandes chances de ser um novo catalisador para negócios, dadas as suas profundas implicações para as operações das companhias.
A Bain ainda indica que possivelmente teremos mais ativos chegando ao mercado. As saídas de PE geralmente crescem à medida que os portfólios envelhecem - um processo que pode ser adiado, só que não indefinidamente. Da mesma forma, as equipes de M&A já estão preparando os negócios que serão alienados dos portfólios corporativos.
Com base nesse panorama, levantamos uma questão crítica: sua equipe está pronta para agir? Assim que o nevoeiro sobre as taxas de juros e a macroeconomia se dissipar, veremos compradores ansiosos para fechar negócios e uma carteira de ativos à venda. Quando isso acontecer, é provável que os negócios sejam retomados mais rapidamente do que muitos previram e favoreçam os compradores e vendedores que estão mais bem preparados, focados e prontos para agir.